Eu nunca fui forte para nada.

Mesmo sem parecer, eu sou frágil. Mais frágil que uma pétala de rosas. Foram muitas as rasteiras, os problemas, as dificuldades, as decepções. E eu sempre levantava. Pisando em espinhos, gritando de dor. Mas voltava e erguia. Eu consigo ficar em pé. Até que um novo ataque aconteça e eu desabe novamente.
Talvez, por tanto sofrer e tanto retornar, tenha criado a ilusão de que eu tenho força. Mas não. Nunca tive força para nada. Eu sempre tive motivos. Motivos para não me entregar, não permanecer no chão. Por mais que me deixar levar fosse simples e indolor, eu tinha um porquê para voltar. Pessoas, amigos, família. Eles precisariam da minha presença. Sentiriam a minha falta se eu não estivesse mais lá. E então, mesmo contra o meu instinto de fraqueza, eu levantava. Minha mente sabia que eu iria cair novamente, mas eu sempre fui teimosa. Vou contra tudo e todos.
Vestir uma máscara ajuda. Eu crio uma imagem de força e felicidade para quem me vê. Sempre achei que, em algum momento mágico, a farsa se tornaria realidade. Não. Eu simplesmente me engano. Eu não preciso que os outros saibam o que eu sinto, o que eu penso, quem eu sou. Prefiro sofrer sozinha. Se é para doer, que doa em mim.
Sim, mentir é errado. E mentir para si mesmo é masoquismo. Eu não me importo. Se não for assim, a tristeza toma conta de mim e tudo perde o sentido, a graça, a vitalidade. Se eu tentar ocultar isso, eu posso enxergar tudo com mais clareza. Posso ver porque eu preciso continuar ali. Posos saber que existem pessoas que sentiriam a minha ausência. Posso manter o meu personagem por eles. Eu posso tentar. Aliás, eu vou conseguir. Sempre consigo, por isso continuo vital.
No entanto, ninguém me alcança no meu universo, na minha espécie de refúgio. Nele, tudo que pesa sob as minhas costas pode ser gritado aos quatro ventos. Só eu vou escutar e só eu vou entender. E eu choro. Desabo. A imagem de garota feliz e engraçada foge de mim. E eu me sinto verdadeiramente só. Verdadeiramente eu. Sentimentos, dores, mágoas. Tudo sai de mim em lágrimas, raiva e desespero. No meu mundo, eu não preciso fingir. Só eu me conheço, só eu sei a verdade.
E quando eu preciso voltar, as coisas entram novamente. Tudo, tudo. Se instalam na minha mente, no meu coração. E isso me faz lembrar que eu preciso recolocar a máscara, ensaiar o personagem. Para os outros, eu ainda era contente e satisfeita. Melhor assim. A verdade pública é sempre melhor que a pessoal.
Nos meus momentos de queda e de total fraqueza, as coisas perdem o sentido. O tempo não passa e se passa, eu não noto e nem ligo. Eu estou me perdendo. E quando os motivos para retornar somem, as ajudas aparecem. Mãos amigas que precisam de mim, me ajudam a erguer o corpo e seguir. Por isso, eu nunca fico desesperada. Seja a dor como for, a queda brusca como for. Não me importa se eu deitei sob espinhos, se eu pisei em pontas afiadas. Eu posso fingir que nada daquilo está acontecendo. Deixar minha mente livre, não pensar. Esperar que o socorro chegasse.
Mesmo depois de levantar, ainda resta a ferida. A marca de tudo o que eu passei. E ela doi mais que tudo. O sangue passa e pulsa sobre ela. E em relação a ela, eu faço o que eu sempre fiz. Espero que cicatrize. Minhas feridas nunca cicatrizam por total. Mas a dor ameniza e eu consigo lembrar que ainda tenho uma vida.
Por mais angustiante que isso seja, eu tenho esperanças, fé. Em algum momento, todas as feridas estarão completamente cicatrizadas. E elas nada mais serão do que as marcas das minhas batalhas. Isso vai acontecer. Mas pode demorar. Dias, meses ou anos. Para quem já esperou tanto tempo por ajuda, aguardar um pouco mais não fará diferença. Até lá, eu somente assumo - para mim mesma - o que eu sou, o que eu posso e o que sei. Eu não sou e nunca serei forte.
Eu choro. Sofro. E aguento.

Às vezes, observar é melhor.

Eu sempre fui muito observadora, procuro entender as atitudes das pessoas sem fazer um contato mais íntimo. E consigo, não é tão dificil. De uma certa forma, as pessoas são transparentes demais. Elas deixam tudo o que pensam, sentem ou desejam expostos, sem nenhum receio. É como se a vida delas fosse um livro aberto. Quem se interessar, é só procurar um capítulo, ler e descobrir qualquer coisa.
Ninguém percebe o quanto isso é ruim e degradante. Tudo bem, ser espontânea e falar tudo o que pensa é uma escolha pessoal, não é isso que eu estou contestando. Eu falo do exagero. Falar tudo a todos. A cada dia que passa - e eu arriscaria dizer a cada minuto -, existem menos pessoas de bom caráter no mundo. Cada vez mais o interesse, a mentira e a ambição sobem a cabeça do ser humano. Honestidade, sinceridade, boa índole... São valores que estão ficando esquecidos. Um paradoxo frustrante. O bom passa a ser ruim, o ruim passa a ser bom.
E quanto mais as pessoas expõem tudo de si para os outros, mais alvos fáceis elas se tornam. Sim, porque é infinitamente mais fácil enganar aquele que se abre com facilidade do que enganar aquele que é mais reservado, mais cauteloso.
Eu não culpo aqueles que escolhem ser transparentes. Eles não são responsáveis pelas pessoas más, claro que não. Mas eles têm que entender. Aprender, na verdade. Aprender que o mundo não é mais um mar de rosas, que as coisas estão ficando mais sérias e principalmente perigosas. É preciso saber cuidar de si, das coisas que podem escapar do nosso controle. Caso contrário, será apenas mais uma vítima dos maldosos e espertos que estão tomando conta da sociedade.
Por falar nisso... Que tristeza, não é? Como os valores bons perderam o sentido. É como se, hoje, alcançar as coisas pelo caminho ruim e errado fosse muito mais fácil que escolher o caminho bom e correto. Eu não acredito nisso. Eu acho que, quanto mais maldades são cometidas por uma pessoa, mais essa pessoa vai pegar pelos erros que cometeu. Demore o tempo que demorar. A justiça ainda existe e ela ainda pode fazer o que é certo. Mas, são poucos os que ainda pensam assim.
Chega a ser deplorável. Até aqueles que, um dia estavam rumando pela escolha certa e digna, agora, passaram para o lado obscuro. É uma escolha que me dá pena. Porém, cada um sabe muito bem o que faz. Desde o começo dos tempos que fazer o bem ajuda a colher o bem e fazer o mal ajuda a colher o mal. Todos sabem disso e se, mesmo assim, preferem ir para o lado ruim e desonesto, é uma decisão deles.
Eu, com as minhas ideias e opiniões, só posso ter fé. Fé de que, um dia, a ficha vai cair para todos. As máscaras vão ao chão e tudo o que é ruim vai perder a majestade. Eu sei que, houve sim, uma época em que tudo era levado pelo bem, pelas coisas boas. Dominantes vêm e vão. No momento certo, as coisas vão mudar de lado.
E, em relação às pessoas transparentes... Eu acho que elas vão entender que esconder algumas coisas faz bem. Você pode muito bem continuar com a sua espontaneidade, transparência. A diferença é que você não precisa ser ingênuo. Fale o que pensa,pode falar, ninguém tem o direito de lhe proibir. Mostre o que quiser, a escolha é sua. Mas tenha a plena consciência de que toda ação possui uma reação. E, em muitos casos, a reação não é nada agradável.
É uma questão de manter o controle. Não se libere demais, não se oculte muito. Viva no meio termo, no equilíbrio. Dessa forma, as coisas vão fluir de uma jeito mais fácil e você não vai precisar se preocupar tanto em se manter fora da zona de ataque dos ''maldosos, ambiciosos e incansáveis''. Não seja enganado, não engane ninguém. Entenda a sua essência e esteja sempre consciente dos seus atos. O lado ruim não é mais fácil, menos compliacado ou mais rápido.
Ele só engana e esconde mais.

Acha certo o que fez comigo?

Ah, deve achar. Acha tanto que nunca mais olhou na minha cara. Não se aproximou e não quis nem manter uma amizade saudável. Fica longe, olhando com um jeito de arrependido. É, garoto. Eu percebo você.
Pensa que eu acreditei em tudo o que você me falou quando veio terminar? Eu não sou idiota, você deveria saber disso. Eu busquei informações e informantes. E consegui muitos. Descobri coisas que você tentou esconder de mim. Descobri todos os seus podres - e são vários, você sabe. Descobri tanto que, se eu fosse tão vingativa e hipócrita quanto você, eu destruiria a sua imagem e a sua reputação. Aliás, eu não preciso destruir nenhuma reputação sua. Você fará isso sozinho.
Lembra da quantidade de vezes que você me deixou sozinha no shopping? É, dizia que tinha ficado doente. Ninguém fica doente tantas vezes! Eu soube toda a verdade. Enquanto eu ficava plantada esperando a sua infame presença, você ia se encontrar com outras garotas. Provavelmente outras tolas, que acreditavam em você, exatamente como eu fiz. Engraçado, parece que você não pode machucar apenas uma, têm que ser várias, não é? Mas eu, sem dúvidas, fui a mais humilhada.
Tudo bem, eu não vou culpar você por tudo, mesmo que mereça. Eu também fui boba demais, acreditei demais. Todos os meus amigos - e acredite, os SEUS amigos também - diziam que eu não deveria ficar ao seu lado. Quanto mais tempo eu ficasse me relacionando com você, mais eu caminharia para a desgraça e mais eu ficaria decepcionada. Mas eu não acreditava. Melhor, eu não queria acreditar. Eu não poderia perceber que estava sendo enganada por alguém de quem eu tanto gostava. Eu preferia cofiar em você. Cegamente, confiei em mentiras.
Provavelmente, eu teria terminado tudo. Mas você chegou antes e fez as honras. E foi embora, com certeza achando que eu desabaria e começaria a chorar, ficaria dias ligando para o seu celular ou te mandando mensagens. Achou que eu ia me humilhar ainda mais, pedir para que você voltasse comigo, dizer que você era tudo para mim e que eu não conseguiria suportar a nossa separação. Acreditou que eu moveria céus e pedras para te ter novamente ao meu lado.
Me diz, você acredita em contos de fadas também?
Sim, porque só tendo cérebro de criança para pensar que eu faria tudo isso. Você realmente achou que ia querer me degradar ainda mais? Achou que eu ia querer me sujar ficando ao seu lado? Você realmente acreditou que o meu amor por você aind tomava conta de todo o meu coração? Confiou cegamente no seu taco e teve certeza que eu seria mais uma conquista largada que se tornaria uma história para você contar?
Estava completamente errado. Eu nunca fiquei tão feliz por me separar de alguém. É como se, no momento em que você chegou na minha frente e disse que queria terminar, o mundo tivesse adquirido uma nova cor - mais bonita.
Eu pude sentir que era aquilo que eu tanto queria. Tudo o que eu queria ter conquistado ao seu lado eu conquistei quando me vi livre da sua presença, da sua convivência. Longe de você, eu descobri o que é ser feliz.
Por isso, agradeço. Agradeço por ter colocado um fim nesse relacionamento sem sentido e sem amor. Agradeço por ter me ensinado a confiar menos em homens da sua laia. Agradeço por ter passado pela minha vida e por deixado essa lição tão importante. Mas agora, já pode ir. Desaparece da minha frente e vira fumaça.
Eu não preciso mais de você. Aliás, eu nunca precisei.

Olha, um dia eu vou cansar.

Cansar de ser ignorada e desconsiderada. Eu não sou nenhum bicho asqueroso, como você pensa. Eu tenho muito sentimentos, e fortes, por sinal. Mas parece que, na sua visão, nada do que eu sinto importa. Você só fica feliz se me vê triste.
Já perdi a conta das vezes em que eu fui dormir chorando por sua causa. A quantidade de pesadelos que eu tive com você surpreendente. A sua forma de me tratar acaba comigo. As suas mudanças de humor e de decisão repentinas me atingem de um jeito que você nem imagina. E nem se importa, pelo visto. Você só me julga e me trata mal. Não sabe me dar carinho, não sabe me dar uma chance. Eu, que tenho tanto amor para lhe dar. Eu, que sempre quis ter uma simples chance de ser feliz com você. E você simplesmente ignora a minha presença.
Mas eu continuo. Ou melhor, meu sentimento continua. Mesmo sofrendo, mesmo chorando e mesmo sem que você mereça, eu tenho um amor enorme por você. Eu não sei como fui me apaixonar por um brutamente do seu tipo, mas aconteceu e eu não pude controlar. E o meu amor continua dentro do meu coração, esperando uma oportunidade para ser demonstrado. Acontece que essa oportunidade parece que nunca chega. E cada vez mais eu me convenço que a coisa mais sensata que eu poderia fazer é me afastar da sua pessoa e dar uma melhorada na minha vida. Oferecer-me uma chance de realmente amar e ser amada.
Mas a minha razão nunca vai superar o meu coração. E ele só pensa em conquistar o seu amor. Mesmo que eu consigo perceber que é uma batalha perdida, em que eu caminho a cada dia para mais perto da afrontosa derrota. Ainda assim, eu tento um contato. Uma proximidade, um momento de fraqueza seu. Tudo o que eu preciso é de um momento. E nesse momento, você perceberia o tamanho de tudo o que eu sinto por você. Eu poderia mostrar a imensidão do meu sentimento, a amplitude do meu amor.
Eu não deveria ser assim. Eu não deveria acreditar em coisas impossíveis, ainda mais quando essas coisas só me destroem mais e mais. É uma espécie de ilusão. No meu interior, eu sinto que em algum momento, você vai me dar uma chance de ser feliz ao seu lado. Eu sinto que, mesmo sofrendo com cada palavra grosseira que você dirige a mim, a cada dia eu me aproximo mais de você e do seu sentimento. Eu sonho com o dia em que você assumirá que também me ama e que sempre teve medo de reconhecer o que sentia por mim, por isso agia dessa forma.
Mas eu sei que só alimento ainda mais a mentira da minha ilusão. Tudo o que eu faço é procurar um jeito de dar esperanças falsas para o meu amor e para tudo o que eu sinto por você. Isso é errado e só me faz mal. Mas eu não consigo parar, é mais forte que eu.
Eu sinto que não posso desistir. Não depois de tanto tempo tentando ficar com você, buscando o seu amor e o seu reconhecimento. É como se ser amada por você tivesse se tornado uma questão de honra pessoal. Eu sei que isso parece loucura e talvez seja mesmo. Mas é assim que eu me sinto e isso não vai acabar tão facilmente.
No entanto, se você continuar assim, eu vou me esgotar. Mesmo com tanta força de vontade e com um sentimento tão puro, eu não vou aguentar. Ninguém aguenta ser massacrada por uma pessoa durante tanto tempo. Eu não vou suportar isso para sempre. Em algum momento, eu desistirei.
Desistir de tentar fazer amar quem nunca me amou.